Culturalmente tratado como um bem infinito e abundante no território brasileiro, a água é um dos principais recursos naturais fortemente afetados pelas intervenções humanas no meio ambiente e às mudanças do clima.
Neste texto vamos abordar os principais aspectos da temática dos recursos hídricos no território brasileiro e os aspectos do cenário atual frente ao comprometimento das águas.
Leia o artigo até o final para maiores informações sobre esse assunto!
Recursos hídricos brasileiros
O Brasil lidera o mundo em quantidade de recursos renováveis internos de água doce - representando 12% do total global - incluindo a Amazônia e o Pantanal, duas das áreas úmidas mais extensas do mundo.
Entretanto, a má gestão dos recursos hídricos já mostra consequências graves, podendo comprometer o abastecimento de água de diversas populações e os ecossistemas. Garantir o acesso à água de qualidade a todos os brasileiros é um dos principais desafios atuais.
O Brasil está dividido em cinco regiões diferentes, que variam fortemente em relação ao clima, relevo, vegetação e disponibilidade de água superficial.
Enquanto a Região Norte é caracterizada por grandes rios de várzea e uma floresta equatorial perene, a Região Nordeste é caracterizada por um clima semiárido, águas superficiais baixas e vegetação predominantemente xerofítica. No centro-oeste fica a maior área úmida tropical do mundo, o Pantanal, outro reservatório vital de água doce cercado pela produção de gado.
Além das diferenças climáticas, a variação na densidade populacional resulta em grandes diferenças na disponibilidade de recursos hídricos entre as regiões brasileiras.
A Região Norte possui grande disponibilidade hídrica superficial e baixa densidade populacional, enquanto as regiões Sudeste e Sul têm clima úmido, mas densidade populacional muito alta.
A nação pode ter a maior concentração de abastecimento de água doce da Terra, mas mais de 70% dele está na região amazônica, onde vivem menos de 7% dos brasileiros.
Aproximadamente 40% da população brasileira vive no sudeste, onde uma seca de 2014 esgotou o reservatório de São Paulo para 3% da capacidade.
A interação entre baixa disponibilidade hídrica superficial e altas taxas de captação de água para usos consuntivos (consumo humano, agricultura, alimentação animal, indústria, entre outros) resulta em balanço hídrico quantitativo crítico a muito crítico na maior parte da região Nordeste brasileira.
Outras áreas críticas e muito críticas estão presentes nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, caracterizadas por baixa precipitação e alto consumo agrícola, e no extremo sul da Região Sul, devido ao alto consumo de lavouras de arroz.
Ameaça às águas brasileiras
Os níveis de ameaça aos recursos hídricos no Brasil estão fortemente relacionados às mudanças no uso da terra, que incluem a presença de grandes cidades e a conversão de áreas naturais para a produção agropecuária.
Apesar de ter uma situação segura em relação aos recursos hídricos, a Região Norte está em destaque global devido ao aumento das taxas de degradação e desmatamento e aos projetos de grandes hidrelétricas.
O nordeste árido perdeu US$ 26 bilhões com as secas entre 2012 e 2017. Aproximadamente 40% da população brasileira vive no sudeste, onde uma seca de 2014 esgotou o reservatório de São Paulo para 3% da capacidade.
À luz das crescentes evidências científicas sobre desmatamento, degradação florestal e mudanças nos padrões de chuva, crises hídricas como a atual em São Paulo podem se tornar comuns nas próximas quatro décadas.
Esses eventos podem afetar o abastecimento de água, a produção agrícola e a geração de energia, entre outras atividades.
A indústria continua sendo um dos principais contribuintes para a degradação ambiental no Brasil. De acordo com o relatório do Banco Mundial, pesquisadores encontraram efluentes industriais, incluindo metais pesados, em corpos d'água de diversas áreas metropolitanas.
Os efluentes industriais são lançados em cursos d'água sem tratamento prévio. O crescimento esperado dos complexos industriais, principalmente no Nordeste, potencialmente resultará em impactos ambientais de longo prazo, como poluição e competição por recursos naturais (principalmente água).
Acesso desigual à água e ao saneamento
Apenas um terço dos 5.570 municípios brasileiros contém pelo menos uma estação de tratamento de esgoto. Entre os 40% mais pobres da população, o percentual de domicílios com sanitários ligados à rede de saneamento passou de 33% em 2004 para 43% em 2013.
No entanto, o acesso ainda é baixo em comparação com a população mais rica. Outras diferenças importantes são aparentes nos números da cobertura nacional de água (82,5%), águas residuais (48,6%) e tratamento real de águas residuais (39%).
A falta de tratamento de efluentes faz com que os poluentes sejam lançados diretamente na água ou processados em fossas sépticas não regulamentadas, com graves consequências para a qualidade da água e, consequentemente, para o bem-estar da população.
Brasil - sustentabilidade e recursos hídricos
O Brasil pode usar seus abundantes recursos hídricos para abrir caminho para a sustentabilidade.
Os setores que mais contribuem para a economia brasileira são também os mais dependentes da água. Por exemplo, 62% da energia do Brasil é gerada por meio de usinas hidrelétricas.
O agronegócio depende da água da chuva e da irrigação superficial e representa mais de 20% do Produto Interno Bruto brasileiro. Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), a irrigação consome 72% do abastecimento de água do Brasil.
Essa dependência significa que quando há escassez de água – como evidenciado pela experiência em São Paulo em 2014 e 2015 – a produtividade de diferentes setores econômicos pode estar em risco.
A abundância e o uso potencial dos recursos hídricos podem alavancar a transição brasileira para a sustentabilidade. Para isso, o Brasil deve primeiro superar os obstáculos na conservação e gestão dos corpos d'água relacionados à distribuição desigual da água, políticas divergentes sobre gestão hídrica, governança pública frágil e impactos antrópicos.
O financiamento do setor hídrico é baseado em tarifas e subsídios cruzados, com uma estrutura tarifária obsoleta, incapaz de gerar serviços mais eficientes e sustentáveis. Como resultado, as empresas têm capital insuficiente para aumentar a cobertura e tornar a infraestrutura mais resiliente a eventos climáticos extremos (secas e enchentes).
Caminhos para uma gestão hídrica brasileira mais sustentável
Considerando as múltiplas condições dos recursos hídricos no Brasil, é possível identificar como integrar a agenda hídrica com outros componentes críticos da sustentabilidade, como alimentos, energia e conservação da biodiversidade.
Segundo um estudo de Farjalla et. al. (2021), do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, algumas alternativas podem ser realizadas a fim de implementar um caminho mais sustentável para a gestão dos recursos hídricos brasileiros. Tais como:
A partir de alternativas como as supracitadas, o Brasil se alinharia às metas estabelecidas nos acordos internacionais e transformaria sua abundância de recursos hídricos em oportunidades de desenvolvimento. Entretanto, o Brasil vem enfrentando diversos retrocessos em sua agenda socioambiental em uma clara direção oposta ao proposto para um caminho sustentável de suas águas.
A cultura da abundância hídrica do Brasil deve ser reavaliada dada aos dados alarmantes do seu contexto atual.
A gestão dos recursos hídricos precisa ser melhorada para atender à crescente demanda por água potável e por água usada nos setores agrícola e energético.
Há uma necessidade crescente de pesquisa e monitoramento contínuo para garantir que esses recursos tão valiosos para a sociedade e para o nosso planeta não sejam perdidos.
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Referências:
Farjalla, V. F., Pires, A. P. F., Agostinho, A. A., Amado, A. M., Bozelli, R. L., Dias, B. F. S., Dib, V., Faria, B. M., Figueiredo, A., Gomes, E. A. T., Lima, Â. J. R., Mormul, R. P., Ometto, J. P. H. B., Panosso, R., Ribeiro, M. C. L. B., Rodriguez, D. A., Sabino, J., Scofield, V., & Scarano, F. R. (2021). Turning Water Abundance Into Sustainability in Brazil. Em Frontiers in Environmental Science (Vol. 9). Frontiers Media SA. https://doi.org/10.3389/fenvs.2021.727051
https://www.uergs.edu.br/dia-mundial-da-agua-o-mito-da-abundancia-desse-recurso-e-a-necessidade-de-novo-olhar-sobre-sua-gestao
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-10/agua-no-brasil-da-abundancia-escassez
https://www.worldbank.org/en/news/feature/2016/07/27/how-brazil-managing-water-resources-new-report-scd
https://www.americasquarterly.org/article/how-countries-manage-water-brazil/
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